O silêncio vergonhoso da igreja brasileira

por **Lourival soldado cristão** Qua 12 Mar 2014, 11:23

[size=10]O silêncio vergonhoso da igreja brasileira

Quando os nazistas emergiram na Alemanha da década de 1930, os protestantes europeus não protestaram. Na verdade, alguns até simpatizaram com a agenda moralista de Hitler, um homem de família – cristão e vegetariano.
O nazismo, pensavam, é um “problema local” e o povo alemão deve se virar sozinho. Ora, não há nada mais contraditório para um cristão – missionário por ordenança – do que virar as costas para irmãos de outros países, próximos ou distantes.
A história avançou, mas os protestantes não aprenderam muito. Primeiro, porque continuam indiferentes diante de dramas como os da Venezuela e da Ucrânia. E permanece o apelo do moralismo, que muitas vezes esconde um Estado policial orwelliano.
O presidente russo Vladimir Putin se vendeu como “conservador” e recebeu apoio de muitos cristãos ocidentais. Ele não cansa de afirmar que a Rússia defende valores tradicionais e se opõe à decadência que predomina nos países ocidentais, notadamente os EUA.
“Nossa postura é a defesa dos valores tradicionais, que constituem há milênios os fundamentos morais e espirituais da civilização”, declarou Putin.
Eu concordo com a defesa de Putin dos valores civilizacionais e com sua crítica ao relativismo moral que infecta as democracias liberais do Ocidente. Mas prefiro nossas democracias imperfeitas ao “arremedo de democracia com sobras da URSS mais organizações mafiosas” que é a Rússia.
Sei que muitos evangélicos choraram de emoção ao saber da cruzada anti-gay de Putin. Ora, que fique bem claro, também discordo da prática homossexual. Mas sou inteligente o suficiente para saber que o pecado não se combate com leis.
E conheço a Bíblia o suficiente para saber que o pecador deve ser livre para pecar. Se Deus concedeu aos homens o livre arbítrio – sabendo de antemão que todos pecariam – não é o presidente da Rússia quem tem direito de revogá-lo.
O problema é deles
“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais democratas, eu calei, porque, afinal, eu não era social democrata. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles levaram a mim, não havia mais quem protestasse” (Martin Niemöller).
Recém eleito, o presidente interino da Ucrânia, Olexandre Turchinov, é pastor evangélico e, diante da ameaça de invasão russa, pediu apoio e orações dos cristãos de todo mundo.
Qual foi a reação da igreja brasileira? Nenhuma.
Quantos tele-evangelistas famosos citaram o apelo em seus programas na TV? Nenhum.
O que a Bancada Evangélica fez a respeito? Nada.
Os líderes evangélicos brasileiros se levantam com fúria contra o beijo gay da novela, mas ignoram totalmente o terrível drama vivenciado por ucranianos e venezuelanos.
Não quero entrar aqui no labirinto das análises geopolíticas. Mas é bastante óbvio que a situação na Criméia terá enormes e profundas repercussões mundiais, desde já porque coloca em lados opostos importantes potências militares.
Desta forma, a constatação do pastor luterano Martin Niemöller nos chega como algo mais do que um alerta e alguma mais próxima de uma profecia. Ao fecharmos os olhos para a Ucrânia e a Venezuela, damos ao mundo o direito de fazer o mesmo conosco no futuro.
Hoje todos nós conhecemos e admiramos a história do pastor alemão Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), que resistiu bravamente à tentativa do nazismo aparelhar o protestantismo.
Dietrich acabou enforcado. Hoje é lembrado e admirado por cristãos de todo o mundo. Mas enquanto esteve vivo não teve qualquer apoio internacional.
Espero que os pastores ucranianos e os evangélicos da Venezuela possam enxergar algum raio de solidariedade vindo de brasileiros e cristãos de todo o mundo.
Não adiantará de nada admirarmos a coragem deles quando já estiverem mortos.

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Thiago Cortês

Thiago Cortês é graduado em sociologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP). Há mais de dez anos trabalha como jornalista e, atualmente, presta serviços de consultoria política.
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